Madonna: do pior ao melhor álbum

Madonna em Express Yourself

Madonna é um dos maiores nomes femininos da História da música pop mundial, se não o maior. Ao longo de mais de 3 décadas, a Rainha do Pop conseguiu manter-se no estrelato como quase mais nenhuma outra artista conseguiu, deixando a sua marca em assuntos controversos como o sexo, religião e política, sem perder a sensibilidade pop que lhe rendeu uma verdadeira legião de fãs ao longo da sua extensa carreira. Em conjunto com a habilidosa gestão da sua imagem, todos estes feitos contribuíram para que o seu nome raramente entrasse em estado latente.

Ainda assim, tal como a sua imagem, a discografia de Madonna não é perfeita e algum material menos consistente já foi lançado ao longo dos mais de 35 anos da sua carreira. Abaixo segue-se a listagem da discografia completa de Madonna, do pior álbum ao melhor álbum. No final deste post poderás votar no teu lançamento preferido! De forma a facilitar a audição de cada álbum, cada capa contém um link direto para o álbum em questão no Spotify, basta carregar na mesma para abrir. Todos os links irão abrir num novo separador.

Nota que esta lista não inclui EPs, live albums, remixes, compilações, relançamentos ou bandas sonoras.

Comentários relativos a outras discografias, ordenadas do pior ao melhor, poderão ser lidos aqui.

Hard Candy

Madonna, Hard Candy, capa

De todos o mais dispensável e menos memorável título de Madonna. Hardy Candy representou aquela que pode ser considerada a pior crise criativa da cantora, que entregou um produto desprovido de audácia, criatividade ou sequer um ponto sólido que prenda o ouvinte. Como se isso não bastasse, Hard Candy não vê Madonna apresentar qualquer conceito ou faixas que requeiram um contexto mais complexo e menos superficial.
Embora tenha dentro de si uma mão cheia de momentos decentes, alguns até convincentes, como “Miles Away”, “4 Minutes” ou “Devil Wouldn’t Recognize You”, este é um doce grande, colorido mas sem sabor. Ainda assim, no meio de tantos pontos negativos, “Miles Away” permanece como uma das melhores passagens da sua carreira. Curiosamente, até a faixa “Latte/Madness Of Love”, que não chegou a fazer parte da versão finalizada de Hard Candy, consegue revelar de Madonna algo mais sólido e comovente que quase todas as músicas presentes no álbum.


Madonna

madonna, capa

O material de estreia de Madonna parece ter sido encarado como uma espécie de ensaio para o álbum que lhe seguiria, mantendo ainda parte da personalidade dos seus tempos enquanto integrante das bandas Breakfast Club e Emmy & The Emmys.
Madonna não é, por si só, uma obra imensa ou altamente memorável. Falta consistência, audácia e peca por não se desenrolar da melhor forma. Ainda assim, as influências funk e uma certa personalidade punk tornam este divertido o suficiente para ser facilmente digerível. “Holiday”, “Borderline” e “Everybody”, single de estreia de Madonna, são algumas das faixas que vale a pena destacar.


Like A Virgin

madonna, like a virgin, capa

O segundo álbum da cantora demonstrou ser o primeiro passo na direção certa. Embora não se afaste muito da sonoridade do material de estreia, Like A Virgin foi o primeiro trabalho de Madonna a tocar em questões sociais como casamento ou materialismo, ainda que numa perspetiva bastante doce e colorida típica da música pop.
Para o bem e para o mal, Like A Virgin foi, inquestionavelmente, o primeiro trabalho de Madonna a destacar-se por entre a multidão e um dos mais icónicos da sua carreira. Eventualmente, o álbum vendeu mais de 20 milhões de cópias puras mundialmente, atribuindo também a Madonna o popular título de Material Girl . Infelizmente, tirando o sucesso comercial, não há muito a perder com a ausência de Like a Virgin.


Rebel Heart

Madonna, Rebel Heart, capa

Apesar de audacioso em certos momentos, Rebel Heart não demonstrou ser o mais consistente ou o mais eficaz em lidar com as suas próprias diferenças, especialmente comparando com Madame X, o mais recente álbum de Madonna. Mesmo após necessidade de recomeçar o projeto em consequência do leak, as produções soam inacabadas, desleixadas e bastante plásticas. Momentos como “Bitch I’m Madonna”, uma das piores faixas de sempre da sua carreira, ou “S.E.X.”, não introduziram nada de novo para a coleção, ocupando espaço num álbum que se assemelha a uma obra de caridade aos estereótipos mais rasos e gritantes de Madonna. Ainda que seja de louvar ver a cantora investir em combinações sonoras menos densas que no álbum anterior, MDNA, o resultado final por si só deixa a desejar em boa parte.
Rebel Heart pode ser descrito como um álbum decente que tenta agradar a todos mas que não cumpre com o desafio na sua totalidade.


MDNA

Madonna, MDNA, capa

MDNA pode ser considerado o trabalho mais denso de Madonna até hoje, ainda que com algumas pausas pelo meio. Depois de quatro anos sem lançar nenhum LP, MDNA pegou nos elementos de Confessions On A Dance Floor e adaptou-os à onda da acid house e dance eletrónico de 2012, sem esquecer a veia polémica típica de Madonna.
Apesar de mal aproveitado, MDNA esconde dentro de si algumas das melhores faixas do reportório de Madonna, como “Falling Free” – provavelmente uma das suas melhores baladas de sempre – “Masterpiece” ou “Gang Bang”, fazendo deste um dos seus trabalhos mais versáteis. Se o lado caótico de MDNA pode ser considerado um ponto fraco para muitos, é precisamente a sua faceta despretensiosa e enérgica que fazem deste um álbum a ter em conta para os apreciadores de música de dança eletrónica.


Bedtime Stories

Bedtime Stories, Madonna, capa

Lançado em 1994, dois anos depois do bem conhecido Erotica, Bedtime Stories veio ao mundo com um certo peso e expectativa em torno de si. Depois das pesadas polémicas de Madonna relacionadas com o álbum anterior, Bedtime Stories não apresentou algo propriamente revolucionário ou distante em termos sonoros, mantendo as claras influências hip hop e R&B presentes em Erotica. Quando comparado com este, Bedtime Stories parece uma cópia barata, com menos faixas que introduzissem o fator novidade na discografia de Madonna, agora consolidada como uma verdadeira lenda. Será também fácil comparar em larga medida o material aqui presente com o de Janet Jackson ou TLC, por exemplo.
No final de contas, aquilo que parecia ser uma sequela do polémico álbum de 1992, tornou-se num dos trabalhos mais previsíveis de Madonna. Ainda que os pontos fortes de Bedtime Stories revelem ser bastante consistentes e criativos, este foi um dos poucos lançamentos da cantora que teve o infeliz destino de ficar entalado no meio de dois verdadeiros clássicos que, em diversas medidas, ofuscam o potencial aqui presente.


Erotica

Madonna, Erotica, capa

Madonna sempre foi cara de polémicas a partir de Like A Virgin, mas com Erotica a cantora atingiu um patamar extremamente elevado. Erotica é, provavelmente, o mais impactante e controverso álbum já lançado por Madonna e um dos mais marcantes da História da cultura pop.
Pegando em influências que variam desde o dance ao jazz e R&B, sem esquecer toda a eletrónica presente em muitas das faixas, Erotica é um trabalho extremamente sensual mas não tão pervertido como pode parecer. Para além do sexo, muitas vezes explícito, Erotica toca também no lado mais humano e sensível da cantora sem perder todo o seu toque especial e intenso. Temas como fim de relacionamentos, abuso psicológico e até perda de amizades para o VIH são apresentos em Erotica.

Infelizmente, o álbum é muitas vezes menosprezado pelo seu conteúdo sexual, não só pelo contexto histórico em plena pandemia da VIH/SIDA, mas especialmente pelo lançamento do livro SEX. Ainda assim, Erotica manteve-se firme ao longo dos anos como um verdadeiro marco dos anos 90 e uma autêntica obra de arte.


Like A Prayer

Madonna, Like A Prayer, capa

Um dos mais pessoais e icónicos trabalhos da sua autoria, Like A Prayer consolidou, ainda mais, Madonna como um verdadeiro nome de peso na industria da música. Temas religiosos e sexuais, como a faixa título homónima, ou bastante pessoais como “Oh Father”, fizeram de Like a Prayer um dos álbuns mais reconhecidos e aclamados da carreira de Madonna. Além do mais, é impossível não mencionar o carácter sofisticado e fora do comum de “Dear Jessie”, pela incorporação de uma estrutura e arranjos fora do comum na música pop. O resultado desta passagem pode ser descrito como uma das criações mais marcantes de sempre de Madonna.
Poucos trabalhos da cantora conseguiram atingir um nível tão elevado de diversidade temática sem perder pitada de consistência, relevância e poder ao longo dos tempos.


Confessions On A Dance Floor

Madonna, Confessions On a Dancefloor, capa

Depois de American Life deixar a imagem de Madonna fragilizada, Confessions On A Dance Floor marcou o regresso às batidas dançáveis inspiradas na eletrónica e no género disco dos anos 70 e 80. Não esquecendo a atmosfera bastante descontraída e sentimental quando necessário, Confessions não apresenta compromissos sérios com a política, religião ou grandes polémicas, ainda que estes temas estejam presentes de forma discreta um pouco por todo o projeto.
Além de se consagrar como um dos mais marcantes trabalhos da cantora do novo milénio, Confessions deu à luz singles memoráveis como “Hung Up”, “Sorry” e “Jump”, num álbum que se desenrola non-stop de forma genial e surpreendente. A sua maior arma é, precisamente, o equilíbrio entre o nostálgico e o contemporâneo que não se revela demasiado forçado ou fora do lugar.


Music

Madonna, Music capa

Um dos mais vanguardistas trabalhos da cantora, Music foi um dos primeiros álbuns a levar o electrodance francês para o topo das tabelas norte-americanas. As suas conquistas, no entanto, não se ficam por aqui. De influências que variam entre o soft rock, glitch, eletrónica, acústico e dance, o álbum foi um autêntico sucesso, tanto em termos comerciais como na execução da sua visão artística.
Music é, de todos os trabalhos de Madonna, aquele que mais, e melhor, fez uso dos efeitos de distorção vocal e instrumental de forma a criar uma obra única dentro do cenário pop. Ao fim de quase 20 anos, a dose certa de experimentalismo aqui presente revelou-se bem sucedida ao ponto de, na sua maioria, soar relativamente moderna e única para os padrões atuais.


True Blue

Madonna, True Blue, capa

True Blue marcou a sua posição de destaque logo a partir do momento em que viu a luz do dia.
Ao apostar numa identidade mais madura, sem se desconectar do som dançável dos dois primeiros trabalhos, True Blue foi um dos passos mais certeiros da carreira de Madonna. As suas vitórias fizeram de True Blue um clássico instantâneo, bem como o álbum mais bem sucedido de Madonna até hoje no que se refere a vendas puras. Ao somar mais de 25 milhões de cópias ao redor do mundo, True Blue estabeleceu Madonna como uma verdadeira superstar, equiparável à popularidade de outros artistas masculinos como Prince ou até Michael Jackson.
Talvez o aspeto que melhor destaca este projeto em relação aos anteriores seja a projeção vocal de Madonna, que se concentra nos registos mais graves e expressivos da sua voz, conferindo não só uma identidade distinta como também maior sensibilidade e capacidade em desenvolver contornos mais intimistas e épicos como em “Live to Tell”.


Madame X

madonna, madame x, capa

Ao buscar inspiração no ambiente multicultural lisboeta, Madame X conseguiu não só a proeza de se revelar como um dos álbuns mais ecléticos na sua carreira, como também de balancear pólos tão opostos que, no fim, mais têm a complementar do que criar rutura entre si.
Do funk à música romântica, incluindo um sample da Dança das Flautas de Bambu da suite “Quebra-Nozes”, Madame X representa o regresso aos tempos em que Madonna não se limitava a seguir tendências, mas sim em moldá-las a seu jeito. O resultado é uma nova identidade, indissociável da sua própria pessoa, conseguindo ainda assim a proeza de ultrapassar as limitações da sua criadora. A review completa deste álbum pode ser lida aqui.


American Life

American Life, Madonna, capa

O mais polémico, agressivo mas também frágil álbum da cantora do novo milénio. American Life demonstrou ser uma jogada bastante arriscada que não rendeu os melhores frutos em termos comerciais ou receção por parte da crítica especializada.
Embora na sua essência este não seja um álbum político, alguns dos momentos aqui presentes poderão ser transpostos para esta dimensão com alguma imaginação. A sua maior falha será, possivelmente, o exibicionismo de um certo cunho político que, no fim de contas, não se mostra eficiente ou profundo o suficiente para justificar a sua estética.
Ainda assim, apesar do seu erro em tentar transparecer aquilo que não o é, este álbum não é dos menos impactantes. Apesar da faixa de abertura, lead-single, não ser merecedora de grande destaque, o restante do álbum é uma excelente peça que coloca os elementos acústicos na posição central de todo o trabalho. No seu percurso, American Life desenrola-se em momentos tanto duros e satíricos, caso de “American Life” ou “I’m So Stupid”, como pessoais e vulneráveis, caso de “Nothing Fails”, “Intervention” ou “Love Profusion”. A natureza pessoal e vulnerável de American Life é verdadeiramente o que o torna num produto esplêndido e distinto.
Nenhum outro álbum de Madonna conseguiu unir pólos tão distintos através de um mantra acústico de arranjos inconfundíveis no mainstream, fruto da colaboração com a mente brilhante de Mirwais Ahmadzai


Ray Of Light

Ray Of Light, Madonna, capa

O título de joia da coroa da extensa discografia de Madonna só poderia caber a Ray Of Light, não só por se tratar do seu mais ambicioso projeto até hoje, mas também o mais consistente, maduro, profundo e desprovido de rótulos. Poderá dizer-se que, de certa forma, Ray of Light transformou a carreira de Madonna, sendo que os elementos da música eletrónica tornaram-se muito mais evidentes não só neste álbum como também em todos que seriam lançados posteriormente.
O resultado final pode ser descrito como um álbum maravilhoso e marcante, oscilando entre a calmaria do trip-hop em “Drowned World/ Substitute For Love”, e as batidas enérgicas do eurodance, como na faixa de título homónimo ou em “Sky Fits Heaven”. Mais ainda, elementos de géneros como rock, art pop e ambient encontram-se também presentes em Ray Of Light.
Para além da maturidade sonora, que também pede emprestadas influências de outros títulos como Homogenic da cantora Björk ou OK Computer da banda Radiohead, Ray Of Light é, provavelmente, o único álbum de Madonna maduro também em termos líricos na sua totalidade.


Madonna em Express Yourself

8 opiniões sobre “Madonna: do pior ao melhor álbum”

  1. Eu sei que gosto não se discute, mais não consigo aceitar madame x, acima de, true blue, erotica, badtime stories. Eu não vou nem falar de mdna.

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  2. Nada a ver colocar madame x que é incrivelmente ruim nas primeiras posições.Nao tem nenhuma canção boa nessa obra,e American Life também foi exagero.Esses dois deveriam estar lá em baixo,como uns dos piores,junto com MDNA e Hardy Candy.

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    1. Percebo o porquê de muitos considerarem o MDNA um álbum não tão bom assim, é um álbum “confuso” e repleto de algumas canções duvidosas de facto, mas é um álbum repleto de cor e batidas viciantes (na minha perspetiva claro). Tendo em conta a expectativa que tive antes mesmo de ter saído e a relação “especial” que acabei criando, para mim continua a ser um dos álbuns mais desvalorizados da carreira da Madonna. De qualquer forma, aguardo ansiosamente por Madame X!

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    1. Sim, escutei todos! Eu sabia que colocar Bedtime Stories em último iria gerar confusão 😅
      No entanto, por mais que eu escute, nunca consegui entrar muito dentro do álbum, não sei é por soar demasiado familiar ou redundante em relação ao Erotica a certos pontos, ou se o excesso de produção me afastou… Mas ainda considero-me como um dos meus menos preferidos, ainda que não seja horrível

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      1. Eu achei ele meio fora do contexto quando ouvi pela primeira vez. Mas tem umas músicas tão boas, como forbidden live e love triend to welcome me. Hoje ele é um dos meus favoritos.

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