Review: Seeva, We Need To Talk

Rating: 4 out of 5.

Numa época em que as questões humanitárias são um dos tópicos mais levantados no seio da comunidade europeia, em especial na UE, parece inevitável não falar na comunidade LGBT+ e no seu papel enquanto agentes pertencentes a uma dimensão maior que as fronteiras definidas pelas vozes separatistas.
Se é inegável o progresso e representatividade cada vez maior dos indivíduos dessa comunidade nos diversos meios, incluindo a arte, há ainda ramos dessa representatividade carecentes de uma abordagem mais séria e crítica sobre si mesmos. Muitas vezes a representatividade LGBT+ foca-se excessivamente nos seus estereótipos como modelo a copiar e ignora outros atributos presentes no seu seio. Nem tudo poderá girar em torno do rapaz caucasiano pseudo- gerontófilo quando ainda é gritante a enorme falta de consideração por comunidades como a árabe ou sul asiática dentro desse meio.

Tarun Shah, de nome artístico Seeva, é um dos nomes do cenário underground londrino que, pouco a pouco, leva a cabo uma mudança desse paradigma. Tendo já lançado algumas faixas nos últimos anos, desde a brilhante e mágica “Heartstop” em colaboração com la lune até a sons de influência EDM mais proeminente como “DripDrip”, We Need to Talk é o seu LP de estreia.
Composto maioritariamente por sons de influência house, dance e nu-R&B, We Need to Talk é uma obra consistente e surpreendentemente bem produzida na sua maior parte, não devendo nada a obras de grandes nomes internacionais, mesmo que por vezes carregue consigo a influência menos positiva do mainstream no mixing de “Breathing”. Parece haver um certo atrito nos vocais de Emma Seeeberg nesta faixa, transmitindo uma sensação um tanto radiofónica, aérea e cortante, mesmo que sua a voz crie uma boa dança de timbres em contraste com a de Tarun. Ironicamente, o mixing de “Breathing” faz jus ao seu nome.

Tematicamente, We Need to Talk centra-se em torno de três temas principais, o ser jovem, o amor e o orgulho na identidade enquanto membro de uma minoria. A essência jovial transborda um pouco por todo o álbum, onde a efervescência das emoções e a urgência em compreender e mudar o mundo estão presentes. Dividindo protagonismo com o seu lado vulnerável, Seeva encontra o equilíbrio perfeito entre a emoção e a batida, sendo “Would You Lie To Me?” um dos maiores destaques desta obra. Se os momentos dançáveis são convincentes não só pela sua energia como também pelo seu teor pessoal, é em momentos como “Hopscotch”, “worship” ou “Princess” que o resultado final é verdadeiramente impressionante e ainda mais tocante, especialmente tendo em consideração que este é um álbum cuja essência é música dance de influência R&B e eletrónica. O maior trunfo de We Need To Talk é o quão relacionáveis as composições de Seeva aqui presentes são, mesmo nos seus momentos mais intimistas.
Quando analisando o conteúdo das faixas presentes nestas obra, o seu alinhamento parece seguir o lema “dança agora, chora depois”. Se os primeiros momentos focam as atenções para o ritmo e para a produção sonora, a segunda metade foca no discurso e confissões de Seeva que, progressivamente, dão lugar a um certo orgulho, amor próprio e consciência da sua própria essência e capacidades.
Nos últimos instantes, “outro” encerra o álbum em tom misto. Há uma clara força emocional perante a necessidade de apanhar os estilhaços do chão mas há também um tom suspensivo nas suas últimas palavras, o que poderá indicar que Seeva ainda tem muito por revelar.

nota final: 7.3/10

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